Situadas no município de Juara, no Mato Grosso, as cerca de 52 famílias das áreas rurais abastecem o município com alimentos, e contribuem fortemente para a economia regional. Mais de R$ 6,4 milhões são movimentados ano a ano.
Mesa de alimentos presente durante o lançamento da Campanha de Pedreira e Palmital Produtiva. foto: João Carlos / Coletivo de Comunicação do MAB
Antes das 09 horas, ovos, legumes, frutas e temperos já coloriram uma mesa farta. Na churrasqueira do barracão comunitário, cortes de gado se transformavam em churrasco. O trabalho é fruto do suor das famílias das comunidades de Pedreira e Palmital, localizadas na zona rural de Juara, no interior de Mato Grosso.
No último domingo (24), foi lançada a Campanha Pedreira e Palmital Produtiva: contribuindo para a economia de Juara, que visa conscientizar a população juarense e da região sobre a importância das comunidades rurais para a economia local. Um diagnóstico socioprodutivo realizado em 2019 pela Associação dos Produtores das Glebas de Pedreira e Palmital (ASPEPAL) e Movimento dos Atingidos por Barragens em parceria com a Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) constatou que as 52 famílias locais movimentam mais de R$ 6,4 milhões por ano.
“Tudo o que a gente produz é para consumo. Plantamos laranja, limão, banana, tem horta, temos tanque de peixe. Como mora na margem do rio Arinos, a gente curte muito na beira do rio. Criamos galinha, temos porco. Então de tudo um pouco a gente mexe na propriedade”, conta Fátima Aparecida, que faz parte da Aspepal e mora há 7 anos na localidade.
Leandro Moraes de Oliveira nasceu na comunidade há 29 anos. De sua família, ele herdou a responsabilidade de cuidar do gado leiteiro e de corte, criado em Palmital há mais de 20 anos. Junto de sua esposa, Samara Garcia Soares, ele teve filhos e espera poder envelhecer na propriedade.
“Eu vi essa comunidade crescer, praticamente. As coisas foram aumentando. A produção de leite era rara, hoje já tem muitas pessoas que mexem com leite”, afirma Leandro. Em média, as famílias produzem e comercializam, mensalmente, 80.785 litros de leite.
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Para o integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens de Mato Grosso (MAB-MT), Jefferson Nascimento, toda a população de Juara está, de alguma forma, conectada com as famílias camponesas.
“As comunidades levam alimento para a mesa do povo juarense, gera emprego, movimenta a economia e ajuda a desenvolver esse município. Essas famílias precisam ser ouvidas e essa campanha é para ampliar a voz para essas pessoas. Tem muita gente nessa área que precisa ser ouvido e o povo de Juara precisa nos ajudar.”
População em risco
As comunidades estão ameaçadas pela Usina Hidrelétrica (UHE) Castanheira, prevista para ser construída no rio Arinos. Se o projeto sair do papel, irá alagar cerca de 10 mil hectares, o que irá afetar boa parte das comunidades Pedreira e Palmital.
“Se a gente gostasse de morar na cidade, a gente estava na cidade. Então a gente fica com medo, assustado, se vai sair ou se não vai sair. Eu tenho 48 anos, meu esposo tem 60, mas tem muitas famílias com pessoas mais de idade. Como a gente se vê saindo desse local? A gente se apega com o local, com as plantas. Só de pensar a gente fica doente e perde o sono”, complementou Fátima.
Leandro Moraes acrescenta que, caso o projeto saia do papel, “vai acabar com tudo, vai destruir com todos nós. A nossa casa, que a gente demorou 4 anos para construir, vai ficar embaixo da água.”
Organização e participação
O evento foi promovido pela Associação dos Produtores das Glebas de Pedreira e Palmital (ASPEPAL) e Movimento dos Atingidos por Barragens do Mato Grosso (MAB – MT), contou com a participação dos comunidades Casulo, Rodolfo Ferro, do povo indígena Kayabi, da aldeia Tatuí, autoridades do município de Juara, Coletivo Proteja e Instituto Centro de Vida (ICV).
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